22 de dezembro de 2007

Mercadorias e Futuro

José Paes de Lira, o Lirinha, vocalista do grupo Cordel do Fogo Encantado, decidiu inverter o jogo. Se no palco, com seu grupo, cantava músicas cheias de poesia, oferecendo a cada uma delas um tipo de interpretação muito singular, agora encena um espetáculo permeado por canções, que ilustram um tema que há muito o incomoda: a relação arte versus negócios.

Este monólogo de autoria, direção e dramaturgia do próprio (e co-direção da atriz Leandra Leal) fala da relação entre arte, comércio e direito autoral, sobre a dificuldade de unir arte e negócios, sobre como trabalhar e ganhar dinheiro.

Lirovsky, o protagonista, vende livros. É um comerciante de registros proféticos, dotado da ciência de colecionar a poesia das predições e de caçar as inscrições do que está por vir. Possuidor do dom de estudar, de decifrar e de narrar mensagens que anunciam o futuro, é também detentor do direito divino de transformar essa narrativa na mercadoria que oferece ao público.

O palco transforma-se então em uma espécie de feira, semelhante aos locais em que era vendida poesia metrificada pendurada em cordões, o que hoje é chamado de "literatura de cordel". O objetivo da performance é refletir sobre a condição de artista e vendedor.

Além do aparato tecnológico de som e luz, e das citações dos profetas que compõem o livro, Lirovsky recorre à obra de outros poetas, não ficcionais, para criar sua argumentação de vendedor. Aí entra a estética do improviso, decorrente da herança poética de Lirinha, com citações de falas de poetas como Zé da Luz, Manoel Filó e Lourival Batista.

O espetáculo está repleto de referências poéticas tradicionais e contemporâneas e cria um elo entre o arcaísmo das feiras livres e o esbanjamento tecnológico que sustenta os negócios virtuais das bolsas de valores e mercado futuro.

A idéia da peça surgiu quando Lirinha estava escrevendo um livro com o mesmo nome do espetáculo. A peça seria então a forma de vender o livro. No entanto, a peça foi tomando corpo e se separou completamente do lançamento do livro, que nem sequer foi publicado.
Para Lirinha, a condição da arte em um mundo ligado à questão mercadológica é um tema muito importante e sedutor. A performance ironiza e aprofunda o assunto. Ele lembra várias poesias de seus tempos de criança, quando recitava poemas nos intervalos de shows de cantadores de viola.
- "A arte não tem como se dissociar do universo capitalista. Ela até tem preço, mas é o preço que cada um quer pagar." - conclui Lirinha.

Fonte: vários sites misturados pelo mundo virtual.


Em cima da hora corremos p/ Sampa.. para não perder Lirinha, único, no palco. E, fomos presenteados... com emoção e diversão pura. Ouvi "Jesus no Xadrez" ao vivásso pela 1a (e talvez única vez) na vida, escutei sons muito loucos - com direito até a participação da mãe do Lirinha de ponta - e, o texto num geral, os "tapas na cara".. sem comentários... saí abobada do Sesc Pompéia.. ehehehehe

Aff Lirinha, mais uma vez, brigadão. Com o perdão da palavra mas, tu é f.. meeeesmo !